sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Cadê o papai?

          - Tchau filha, papai já vai! - Despediu-se o pai da pequena Clara.
      A menina então começou a chorar e agarrou-se nas calças do pai com toda sua força:
          - Precisa mesmo ir papai? - Perguntou a garotinha com os olhos cheios de lágrimas.
          - Sim meu amor, papai está indo buscar um futuro melhor pra você, para que você tenha um amanhã muito mais feliz. - Explicou.
          - E onde fica isso? - Perguntou ela.
          - Fica em um lugar muito longe, além do sol... - Respondeu o pai.
          - E quando o senhor volta? - Perguntou a garotinha que ainda estava muito aflita.
          - Talvez eu não volte meu amor, mas escute, quero que cuide da mamãe e se torne uma pessoa boa e aí papai vai olhá-la e sorrirá através das estrelas.
       A menina então abraçou o pai com todas as suas forças, pois em seu coração sabia que não o veria mais, mesmo que quisesse acreditar que ele voltaria antes que ela pudesse piscar os olhos.
    Desde aquela data em diante, a pequena Clara acordava pela manhã, arrastava uma cadeira em direção a janela e olhando em direção aos raios do sol, esperava ver pelo menos um vulto que se parecesse com seu pai, ficava alí por horas conversando com o sol e pedindo uma resposta, depois descia da cadeira e corria para o espelho ver o quanto tinha crescido e o quanto estava próxima de um bom futuro, assim seu pai não precisaria mais trazer um para ela e talvez voltasse para casa mais de pressa. Clara então corria para o quarto de sua mãe, pois sempre, todas as vezes acordava primeiro do que ela e ia ver se estava tudo bem, assim se sentia cuidando dela e ao mesmo tempo em que estava cumprindo o acordo que fez com o pai estava também cuidando para que a mãe não precisasse ir embora assim como ele precisou. Logo anoitecia, e para saber se estava se tornando uma pessoa boa, Clara corria novamente para a janela olhar as estrelas e ver se o pai sorriria através delas como prometera, muitas vezes ela acabava adormecendo alí e a mãe a levava para o quarto.
    Assim, os anos foram se passando e Clara certa vez no jantar perguntou à mãe:
       - O papai não vem para o meu aniversário de novo, não é?
       - Não querida, outra vez ele não vem. - Respondeu a mãe com uma voz esganiçada, como a de quem quisesse chorar infinitamente.
       - E por que ele não vem? - Clara faz nova pergunta.
       - Porque ele está trabalhando duro para que você seja sempre essa menina maravilhosa que você é. - Respondeu a mãe ainda com tom de tristeza eterna na voz.
     Clara então segurou a mão da mãe e perguntou:
       - Então por que a senhora chora todas as noites?
       - Porque eu sou uma boba. - Riu-se fingidamente a mãe.
     Naquela mesma noite Clara ouviu sua mãe abafar o choro nos travesseiros pela milésima vez, caminhou na ponta dos pés e a viu pelo vago espaço que havia na porta, ela estava com uma mão abafando um travesseiro no rosto para que Clara não a ouvisse chorar e com a outra que estava com um terço entrelaçado nos dedos ela segurava um porta-retrato com a foto do marido.
     Na manhã seguinte, Clara levantou-se e no espelho notou que o futuro havia chegado mais rápido do que notícias de seu pai que nunca chegavam até ela, logo ela subiu na cadeira para ver através da luz do sol e sua cabeça tocou o teto, ela então olhou para fora e com os olhos molhados das lágrimas do amadurecimento, ela de repente entendeu tudo:
      - Por que não me contou que estava indo para a guerra papai?

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