No meio do século III A.C, Roma
já era uma força militar e dominava toda a península itálica, seja por
meio de guerras ou por alianças com outros grupos, dentre os quais as
cidades gregas na península, tendo Tarento como a mais importante, que
após o fracasso da invasão de Pirro se rendeu a Roma.
Catargo
era uma potência comercial e marítima no Mediterrâneo, com portos no
norte da África, península Ibérica e na Sicília. Catargo possuía uma
inimizade histórica com Siracusa, cidade grega situada ao leste da ilha
Sicília, tendo ambas pretensões de dominar a ilha.
Catargo e
Roma eram aliados comerciais e tinham inclusive combatido juntos contra
Pirro, pouco mais de uma década antes do inicio da primeira guerra púnica.
E foi no meio de todo esse conflito que cresceram as irmãs Abadir e
Celantine, as moças moravam na região central da tão disputada ilha
Sicília que era um lugar simples mas sua beleza era histórica e atraía
turistas dos dois lados da ilha.
A bela Abadir era a irmã mais
velha e estava prometida a Gaius, um tirano de Roma que tinha fortes
influências e poderia facilmente convencer os comandantes de Catargo a
desistir da posse da Ilha pondo fim então a eminente guerra que seguia-se com força e sem que nenhum dos lados recuasse, e Celantine era pouco mais jovem que Abadir e sua ingênua
mente era dominada por tolas, fortes e intensas ideias de romance.
O casamento de Gaius e Abadir fora planejado pelos pais da jovem
juntamente com o próprio noivo, Gaius visava a beleza da jovem para
poder exibir ao seu lado e despertar a inveja de todos os outros homens
da região e das proximidades e para se casar com ela concordou em
dialogar com os líderes Catargos e pôr fim a guerra, e os pais da jovem
concordaram em oferecer sua filha pois acharam que a felicidade de
Abadir era um preço baixo a ser pago comparado a paz que teriam como moeda de troca. Abadir embora não estivesse apaixonada aceitou a oferta de bom grado e contentou-se pois sabia que
com o casamento marcado a guerra teria fim e a ilha toda poderia viver sem medo,
a única a não concordar com o trato era Celantine pois sabia que sua
irmã seria infeliz em um casamento sem amor.
Abadir e Celantine
gostavam de passear pela ilha e fazer compras, em um desses passeios as
jovens conheceram um feirante que vinha do leste da ilha para vender
mercadorias de sua região, o belo e másculo Maffeo. Com o tempo as
compras de Abadir e Celantine com o Jovem Maffeo foram crescendo e com
elas o interesse de ambas irmãs pelo rapaz.
Outro dia ia
terminando e no horário do toque de recolher quando as irmãs iam se
deitar, Celantine notou Abadir muito pensativa e com o coração distante:
- Que te afliges irmã? - Perguntou.
Abadir aproximou-se da irmã e cochichou em seu ouvido:
- Penso estar apaixonada por Maffeo.
Celantine que também guardava sentimentos pelo rapaz deu um sorriso sem graça e perguntou:
- Acreditas que ele sente por ti igual amor?
- Ontem quando fui comprar verduras para nossa mãe no fim da tarde,
Maffeo seguiu-me e entregou-me uma rosa, logo depois comparou minha
beleza à beleza dela. - Respondeu Abadir, radiante.
Celantine ainda sem graça, fez nova pergunta:
- Mas o que pensas fazer a respeito de teu casamento com o romano?
Abadir então respondeu:
- Se Maffeo amar-me como o amo, não irá mais haver casamento.
Celantine lembrou-se então de quando foi à feira sozinha pela tarde, de
Maffeo perguntar-lhe sobre sua irmã e do grande interesse que ele
mostrou, contudo, ela não disse palavra e mesmo com o coração apertado,
resolveu dormir.
Na noite seguinte após o toque de recolher,
Maffeo invadiu o jardim da casa e jogou pedrinhas na janela do quarto
onde dormiam as irmãs, Celantine acordou e foi à janela:
- Olá Celantine, chame Abadir para mim por gentileza? - Pediu o rapaz.
Da janela, Celantine viu a irmã dormindo e por instantes ficou divida
entre o que deveria fazer que era chamar sua irmã e o que seu coração
lhe pedia para fazer que era dizer a Maffeo para ir embora. A jovem
respirou fundo, engoliu seu nó na garganta e chamou a irmã que após
pouca conversa pulou a janela e saiu com Maffeo. Celantine então trancou
a porta do quarto para que não notassem a falta da irmã, deitou-se e
não pode dormir, foi naquela noite que Celantine aprendeu uma coisa a
mais sobre o amor, era mais difícil dormir quando os olhos estivessem
ocupados molhando os travesseiros e o coração estivesse partido demais
para permitir o sono.
Logo que o dia amanheceu, pouco depois que
Celantine conseguiu pegar no sono, ela foi acordada pela irmã que havia
voltado e estava feliz querendo lhe contar que estava vivendo um
romance, Celantine estava mais calma pois já havia chorado durante toda a
noite e já desconfiava que Abadir e Maffeo viveriam uma história de
amor e mesmo com o coração em pedaços, a jovem sentou-se na cama e
deixou que sua irmã falasse.
Após algumas noites já havia se
tornado rotina que Maffeo fosse buscar Abadir e eles passassem toda a
noite juntos até verem o sol nascer enquanto Celantine os dava cobertura
e lutava contra o desejo que seu coração sentia de entregar o segredo
de Abadir aos pais.
Certa manhã Abadir e Maffeo dormiram embaixo
de uma árvore e a moça esqueceu-se da hora de voltar para casa, quando o
sol nasceu e Abadir não apareceu, Celantine começou a ficar preocupada
então levantou-se e foi olhar da janela se via sua irmã chegando, mas
quem viu aproximar-se da casa era Gaius, o noivo romano de Abadir que
vinha para tomar o café da manhã com a família da noiva, Celantine então
ficou dividida entre descer à porta e contar a todos a verdade ou
pensar em algo que pudesse ajudar a irmã e antes mesmo que ela tivesse
tempo de decidir o que faria, viu o pai recepcionar Gaius na frente da
casa e juntos viu-os entrar, logo escutou a mãe bater à porta do quarto:
- Abadir, desça imediatamente, seu noivo está aqui e deseja vê-la.- chamou a mãe.
- Abadir desce daqui 10 minutos mamãe, ela estava dormindo e terá que se arrumar para o noivo. - Respondeu Celantine.
- Está certo, se arrume também Celantine, quero que esteja elegante na
frente de seu futuro cunhado, não demorem! - Ordenou a mãe.
Assim que escutou a mãe se afastar da porta, Celantine mais do que de
pressa pulou a janela e foi até onde a irmã disse que ficava à noite com
Maffeo, acordou-os e disse à irmã o que estava acontecendo na casa, as
duas voltaram correndo, entraram novamente pela janela, arrumaram-se de
qualquer jeito e desceram:
- Demoraram demais! - Reclamou o pai das moças.
- Não há motivo para sermão, entendo o motivo da demora, Abadir quis
ficar perfeita para a refeição comigo. - Interferiu Gaius.
Após
a refeição, Abadir disse à Celantine que contaria aos pais que não
queria mais casar-se com Gaius, Celantine trancou-se no quarto e rezou
três terços pela irmã, que logo depois subiu as escadas correndo e bateu
com força na porta, ao abrir a porta Celantine viu o rosto da irmã que
estava chorando todo borrado de maquiagem e os cabelos despenteados,
Abadir entrou e as irmãs trancaram a porta:
- Qual o problema minha irmã? - Perguntou Celantine.
- Maffeo mora do lado leste da ilha, sabe o que isso significa? - Perguntou Abadir, soluçando.
Celantine parou para pensar uns minutos e depois entrou em choque:
- Ai meu Deus... Maffeo vive em Siracusa.
Siracusa estava em guerra com Catargo pela Ilha de Sicília e Roma era
aliada de Catargo, o que significava que se Abadir não se casasse com
Gaius, todo o povo da Ilha de Sicília iria ser escravo de Catargo e Roma
iniciaria uma guerra pessoal com Siracusa.
Celantine abraçou a
irmã e deu à ela todo o seu apoio e quando Abadir disse que desistiria
de Maffeo para se casar com Gaius o coração de Celantine pesou mas ela
não disse.
Naquela noite quando Maffeo apareceu no jardim,
Abadir desceu para terminar o romance e explicar a Maffeo que não
poderia mais desistir do casamento com Gaius, Celantine ficou observando
a cena pela janela do quarto e viu o sofrimento de ambos dando aquele
último beijo de despedida e então ela chorou vendo aquele amor todo o
qual ela sempre acreditou que existia no mundo, acabar daquela maneira,
foi nesse momento que ela começou a tirar todas as roupas de Abadir do
armário e jogar na cama, Abadir que voltava do jardim pela janela
chorando lhe perguntou porque ela estava fazendo aquilo:
- Você vai fugir com Maffeo e isso não é uma opção, é um dever. - Respondeu Celantine.
- E o que eu faço com todo o resto? - Perguntou Abadir.
- O que você está fazendo com a sua vida? não importa o resto, o que
você e Maffeo têm é o que eu queria ter e eu daria tudo por isso, então
não posso deixá-los destruir o amor em nome da paz, porque vocês dois
nunca vão viver em paz se fizerem isso, vai ser inútil, em suas vidas
sempre vão saber que o outro existe e que está em algum lugar, vão
pensar em como seria se tivesse acontecido diferente e vão ter que
aprender a conviver com o que estão fazendo, então você vai levantar
agora e vai atrás dele, enquanto isso eu vou terminar as suas malas. -
Disse-lhe Celantine.
Abadir então sorriu e pulou a janela para
ir atrás de sua felicidade enquanto Celantine enterrava a dela junto com
as roupas de Abadir nas malas.
Na manhã que antecedia o dia
do casamento de Abadir e Gaius, Abadir fugiu para bem longe com Maffeo e
Celantine deu cobertura aos dois até o fim da tarde que foi quando
contou aos pais que Abadir havia fugido de casa.
Gaius foi
largado no altar e jurou vingar-se em todo o povo de Siracusa e ajudar
em conselho os Catargos a escravizarem o povo da Ilha Sicília, Gaius foi
à casa da família de Celantine para avisar-lhes do destino cruel que os
aguardava, ele derrubou a porta e entrou na casa cheio de ódio em seu
peito e quando ia começar a falar, reparou na bela jovem sentada tocando
piano que parecia pouco se importar com seu destino, ele então
aproximou-se dos pais e perguntou:
- A jovem a tocar piano também é filha vossa?
- Sou. - respondeu Celantine antes que os pais pudessem dizer qualquer coisa.
- Nunca havia reparado na irmã de Abadir, é adorável. - Comentou Gaius.
- Se for de seu interesse, ofereço ao senhor minha própria mão em
casamento, se a guerra acabar, é claro. Dou-lhe minha palavra.- Ofertou
Celantine.
Gaius pensou por alguns segundos e depois sorriu, concordando com a oferta.
Gaius se casaria pela beleza de Celantine que era tão intensa quanto a
de Abadir e também serviria para exibir aos outros, e porque para ele
casar com a irmã daquela com quem ele iria casar-se era de alguma forma
um meio de mostrar-se superior diante das pessoas e ser compensado após
ser abandonado no altar, e Celantine se casaria não apenas pelo fim da
guerra ou pela paz, se casaria para dar a um homem um motivo pelo qual
não guerrear, um motivo pelo qual viver em paz, o que para ela era um
bom motivo para casar.
Celantine e Gaius tinham a mágoa e a
rejeição a compartilhar e tinham em comum a falta do amor, não se
amavam, mas juntos iriam compartilhar e aprender muito sobre amor.
No dia do casamento, Celantine sorriu e esteve feliz, pois sabia que
estava destinada a ser de Gaius e aceitava isso, mesmo que não o amasse.
Existem pessoas que nasceram pela metade, destinadas à outras, e
existem pessoas como Celantine, que nasceram sós e destinadas a uní-las.
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